Cachorro-Quente da Macabéa

No livro “A Hora da Estrela”, de Clarice Lispector, Macabéa é tão pobre que só come cachorro-quente e, às vezes, sanduíche de mortadela.

Estou passando esta semana na casa dos meus pais. Isso significa que estou curtindo umas miniférias de uma semana, jogada no sofá, me acabando no Netflix e, às vezes, admito, nem tirando o pijama. Mas, voltar a morar em casa, nem que seja só por uma semana, me fez lembrar de um costume bastante engordativo da família: comer lanches no jantar.

Acuda que tô quase tendo overdose de glúten. Mas, para aproveitar este costume, resolvi fazer um lanche bastante conhecido da literatura. Trata-se do cachorro-quente da Macabéa. (Quem me lembrou desta receita foi a Katherine Salles, criadora da página Chá de Letras no Facebook).

É claro que decidi fazer uma opção diferente, até porque se fizesse o cachorro-quente Macabéa comia seria só pão com salsicha, né? Pelo menos, foi este o esculacho que recebi do meu pai. Anotei os ingredientes para ele ir ao mercado (Porque, como já disse, não tenho coragem de tirar o pijama para sair na rua). Ele olhou a lista, leu gorgonzola, pimentão, cream cheese. “Filha, você acha que Macabéa teria dinheiro pra comer gorgonzola”?.

Eu sei, pai. Mas aí não teria graça colocar aqui no blog, né? rs

Rodrigo S.M é um escritor que se depara com Macabéa na rua e decide contar sua história. Macabéa é uma datilógrafa de Alagoas que migrou para o Rio de Janeiro e vive uma vida extremamente simples. Ela se apaixona por Olímpico de Jesus, que a deixa para ficar com Glória, melhor amiga de Macabéa.

Glória se sente mal por ter roubado o namorado de Macabéa e a convida para um café da tarde com chocolate quente, rosquinhas e bolo. Macabéa se esbalda, é claro, mas no outro dia acorda passando mal e com muita vontade de vomitar. “Mas teimosa não vomitou para não desperdiçar o luxo do chocolate”, conta Rodrigo S.M.

Macabéa vai ao médico, que se assusta com a imagem pele e osso da menina. Veja o trecho:

– Você faz regime para emagrecer, menina? 
Macabéa não soube o que responder. 
– O que é que você come? 
– Cachorro-quente. 
– Só? 
– Às vezes como sanduíche de mortadela. 
– Que é que você bebe? Leite? 
– Só café e refrigerante. 
– Que refrigerante? — perguntou ele sem saber o que falar. A 
toa indagou: 
– Você às vezes tem crise de vômito? 
– Ah, nunca!, exclamou muito espantada, pois não era doída de 
desperdiçar comida, como eu disse.

“A Hora da Estrela” foi lançado no dia 26 de outubro de 1977. Em fevereiro daquele ano, Clarice deu sua única entrevista televisionada para o repórter Júlio Lerner da TV Cultura.

Na entrevista ela fala bastante sobre “A Hora da Estrela”. Diz que acabou de escrever um livro sobre uma nordestina “tão pobre que só comia cachorro-quente”.

Também contou um fato bastante curioso envolvendo a cartomante que sela o destino trágico de Macabéa. É um entrevista muito visceral e sentimental. Vale a pena ver a entrevista completa:   

 

  

 

 

 O livro foi escrito à mão em vários papéis picados. O texto foi organizado pela sua datilógrafa Olga Borelli.

Clarice foi internada logo depois do lançamento de “A Hora da Estrela” por causa de câncer no ovário e faleceu no dia 9 de dezembro, um dia antes de completar 57 anos e menos de dois meses depois de lançar um dos seus livros mais famosos.

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 Nível: Apenas 1 Machado

 Não sou muito fã de catchup e odeio mostarda, mas você pode usar estes condimentos para incrementar o seu Cachorro-Quente.

O pessoal aqui em casa curtiu, mas como já disse, eles são suspeitos, pois só comem lanche no jantar.

Mesmo assim, fica a dica para uma receitinha bem simples para aqueles dias que você não tá muito afim de cozinhar. 

<3