O primeiro volume da trilogia “Boitempo“, do poeta Carlos Drummond de Andrade, foi um dos primeiros livros que li. Por alguma razão, de todos os poemas da obra, nunca esqueci daquele que fala sobre o Licor de Leite.

Este licor de leite deu o que falar. Quer dizer, pelo menos aqui em casa.

Esta foi a segunda receita que fiz para o blog. Quando comecei a colocar em prática a ideia de aprender a cozinhar inspirada em meus escritores preferidos, duas receitas vieram na cabeça. A Cocada da Capitu e do Bentinho e o Licor de Leite de Carlos Drummond de Andrade.

O problema é que fazer um licor é simples, mas requer paciência. Afinal, ele demora dez dias para ficar pronto. Bom, o fato é que fiz o licor, deixei ele num canto e… Acabei esquecendo. A garrafa ficou largada num canto da casa, solitária, por meses.

E então decidi fazer a receita novamente, só que desta vez num domingo qualquer na casa do namorado. Mas aí o mesmo aconteceu. Esqueci a garrafa na casa dele e o tempo foi passando, passando e passando… Estragou.

Portanto, esta é a terceira vez que tentei fazer o licor e, finalmente, deu certo. Programei o alarme do celular para me avisar que já tinham passados dez dias e era hora de coar a bebida.

E, ainda bem, o licor ficou uma delícia.

A trilogia “Boitempo” é repleta de poemas que são considerados um testemunho autobiográfico do autor. No poema O licoreiro“, Carlos Drummond de Andrade relembra a infância ao olhar o licoreiro vazio, onde antes ficava o tradicional licor de leite da família.

Este poema me lembra muito uma frase de Lygia Fagundes Telles. Ela diz “A memória tem um olfato memorável. Minha infância é inteira feita de cheiros”.

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Veja um trecho do poema abaixo:

"O licoreiro, vejo-o
delicioso em si, mesmo vazio
à espera do licor, de tal maneira
na forma trabalhada
habita o gosto perfumado
e em cada prisma-luz se distribui
ao paladar da vista já gozando"

A obra “Boitempo”, publicada em três volumes, foi lançada em 1968, 1973 e 1979. “O Licoreiro” aparece no primeiro volume “Boitempo I – (In) Memória”.

A crítica não gostou muito da obra na época porque alegou que o autor deixou de lado o seu experimentalismo para fazer algo bem tradicional. Mas, é claro que esta opinião mudou e hoje a trilogia é uma obra importantíssima de Carlos Drummond de Andrade.

O escritor sempre optou por uma obra memorialista. Como é o caso do conto “O Sorvete” que já apareceu por aqui. Lembra?


Nível: Apenas 1 Machado

Licor de Leite

  • – 1 litro de leite
  • – 1 litro de pinga
  • – 1 kg de acúcar
  • – 1 limão
  • – 3 favas de baunilha
  1. Fazer o licor é a coisa mais fácil do mundo, o problema é que ele demora para ficar pronto. Para ser mais exata, dez dias.
  2. Em uma garrafa, coloque a pinga e o leite para que este coalhe. Em seguida, coloque o limão em rodelas (Descascado, ok?), o açúcar e a as 3 favas de baunilha.
  3. Feche bem a garrafa.
  4. Durante dez dias, duas vezes ao dia, chacoalhe a garrafa para misturar os ingredientes.
  5. Passados os dez dias, coe a bebida com filtro de café.

 Depois de ler o poema é impossível não beber o licor e sentir um gostinho de saudade de não se sabe o quê.

Uma dica: se você quer um licor tipo Amarula, basta incluir 50g de chocolate ao leite aos ingredientes. 

A pinga conserva o licor, o que faz com que este dure por bastante tempo.

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