A paella de Ernest Hemingway

Machado de AssisMachado de AssisMachado de AssisNível: 3 Machados difíceis, mas gostosos.

 

Ontem decidi fazer um almoço especial para a Dona Judith, mais conhecida como minha mãe. De presente, dei o livro “Por quem os sinos dobram” de Ernest Hemingway e, de quebra, ainda fiz a paella citada na obra.

Receita de Paella

O mais legal da receita é que desta vez eu caprichei. Eu fiz a receita do restaurante favorito de Hemingway e ainda bati um papo com o neto do cozinheiro que ensinou o escritor a fazer paella.

Os personagens Robert e Maria se apaixonam em meio a Guerra Civil Espanhola. O filme lançado em 1943 foi protagonizado por Gary Cooper e Ingrid Bergman.

Os personagens Robert e Maria se apaixonam em meio a Guerra Civil Espanhola. O filme lançado em 1943 foi protagonizado por Gary Cooper e Ingrid Bergman.

(O post de hoje é grande. Se quiser, pode pular logo para a receita e mãos à obra).

A paella

“Por Quem os Sinos Dobram” é considerado o melhor livro de Hemingway. Escrito em 1940, a obra virou filme protagonizado por Gary Cooper e Ingrid Bergman, inspirou música do Metallica e ainda deu nome a um álbum do cantor Raul Seixas, lançado em 1979. Não é mole, não!

O livro narra a história de Robert Jordan, um americano das Brigadas Internacionais, que luta ao lado do governo democrático espanhol na Guerra Civil Espanhola. O escritor começou escrever o livro em 1939 enquanto morou em Cuba e colocou no papel parte da sua experiência vivida na Guerra Civil Espanhola, quando foi cobrir como jornalista. Parte desta história também está contada no recente filme “Hemingway & Gellhorn” interpretado por Clive Owen e Nicole Kidman.

Mas e a paella? – você há de perguntar.

Na verdade a paella é citada apenas uma vez pela esposa do personagem Pablo, chefe dos guerrilheiros da região. Ela conta como foi a sua experiência em Valência, enquanto um grupo de soldados divaga sobre como a Espanha é o melhor país do mundo.

Ela diz:

Comíamos muito. Depois comíamos paella feita com mariscos frescos,
mexilhões, caranguejos e enguias pequenas, depois comíamos enguias
ainda mais pequenas, sozinhas, fritas em azeite, que pareciam feijões
verdes e se enrolavam em todas as direções e tão macias que desfaziam 
na boca sem a gente mastigar.

Curiosidades

A literatura de Hemingway é conhecida por ser bem autobiográfica. Muito do que acontecia de importante na vida do escritor acabava, hora ou outra, virando um romance. Por esta razão, a paixão dele pela paella espanhola faria com que a comida fosse citada em algum momento.

Certa vez, ele decidiu aprender a fazer a paella e foi pedir ajuda para Emílio González, até então proprietário do restaurante Botin, aberto em 1725 em Madri e, até hoje, o restaurante mais antigo do mundo. Conversei com Carlos Gonzáles, neto de Emílio e atual proprietário do restaurante. (Lembra que eu citei o restaurante na lista de Dez restaurantes frequentados por grandes escritores?)

A família posa em frente ao restaurante numa foto datada de 1887. Crédito: Acervo pessoal de Carlos Gonzáles.

Família posa em frente ao restaurante Botin numa foto datada de 1887. Crédito: Acervo pessoal de Carlos Gonzáles.

“Hemingway tinha uma relação muito especial com o Botin.  O restaurante é citado no livro ‘Morte na Tarde’ e a cena final da obra ‘O sol também se levanta’ acontece no Botin. Nas últimas duas páginas, em que os protagonistas comem leitão assado (especialidade da casa , assado em nossa velho forno de lenha de carvalho) e bebem várias garrafas de Rioja Alta”, conta Carlos.

O leitão assado é até hoje o prato mais pedido do Botin. Carlos me contou que ele é assado em um forno a lenha que já tem mais de 300 anos. Mas, infelizmente eles não servem mais a paella.

Foto da Fachada com a equipe atual. Crédito: Acervo pessoal de Carlos González.

Foto da Fachada com a equipe atual. Crédito: Acervo pessoal de Carlos González.

“Atualmente, não temos mais em nosso cardápio. De fato, Hemingway era amigo de meu avô Emílio e lhe pediu para ensiná-lo a fazer Paella. O resultado não foi como o esperado e, por fim, eles concordaram que cada um deveria continuar se dedicar ao que sabiam fazer: Hemingway com a literatura e meu avô com a cozinha”, brinca o proprietário do Botin.

Para aproveitar a oportunidade, pedi a receita da paella que eles serviam. “Uma paella simples de pescados e mariscos”, ele respondeu.

Então já sabe, uma vez em Madri, não deixe de conhecer o Botin e provar o famoso leitão assado :D

Ingredientes

Como fazer paella

Primeiro vou falar rapidamente sobre a panela de paella. Eu comprei por apenas R$50 na loja Panela & Cia, que fica em São Paulo, na Rua do Acre, ali no bairro da Mooca. Mas, através do site eles vendem para o Brasil todo. Estou dando esta dica porque lá tem a tradicional panela de paella de ferro e achei o preço ótimo! Todas as panelas são produzidas ali mesmo.

1 kg de camarões pequenos
2 lulas cortadas em rodelas
200gr de mexilhões
1 vidro de azeitonas pretas
Azeite
1 lata de ervilhas
2 xícaras de arroz paraboilizado
Alho à gosto
Pimenta do reino à gosto
Sal à gosto
Açafrão à gosto
2 cebolas roxas picadas
3 tabletes de caldo de camarão
Salsa e cheiro verde
3 pimentões frescos
4 ovos cozidos para enfeitar

Ernest Hemingway durante a Guerra Civil Espanhola

Ernest Hemingway durante a Guerra Civil Espanhola

Passo a Passo

Esquente o azeite na panela e coloque o alho para dourar, em seguida acrescente as cebolas picadas.

Junte os mexilhões e a lula. Deixe dourar e coloque os camarões junto com o açafrão e os tabletes de caldo de camarão. Tempere com sal e pimenta.

Cozinhe o arroz à parte e acrescente na paella quando os camarões começarem a ficar rosados. Coloque as ervilhas, as azeitonas e o pimentão.

Por último acrescente a salsa e o cheiro verde.

Enfeite com os pimentões, os ovos cozidos e as azeitonas.

Ernest Hemingway Eu fiz a receita para o Dia das Mães. A Dona Judith ganhou o livro de Hemingway e a paella preferida dele. <3

Preciso dizer que até pensei em fazer a paella com as enguias, mas quando olhei para elas, decidi que não saberia fazer. Por enquanto, pelo menos.

As aventuras de aprender a cozinhar ainda não me permitiram me aventurar em cozinhar enguias. Fica para a próxima! :D

 

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3 thoughts on “A paella de Ernest Hemingway

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